ZENIT - O mundo visto de Roma

23/08/2012

Deus está na moda...

Arcebispo de Burgos fala de conversões

BURGOS, Espanha, quarta-feira, 22 de agosto de 2012 (www.zenit.org) - Em meio a um laicismo e relativismo que afeta continentes inteiros, em especial a Europa, e a poucas semanas da abertura da Assembleia Especial dos Bispos sobre a Nova Evangelização, dom Francisco Gil, arcebispo de Burgos, reflete sobre este fenômeno trazendo à tona casos que são um verdadeiro retorno a Deus.
A seguir, o texto integral da sua mensagem.



+ Francisco Gil Hellín
Talvez alguns pudessem pensar que a história dos grandes convertidos é água passada. A realidade é bem outra. As letras francesas, por exemplo, seguem as pegadas de Paul Claudel, Péguy e Mauriac, e, cada vez mais, são frequentes os romances e ensaios que têm como protagonista a fé cristã. Seguindo o caminho de escritores de tanta envergadura como Tournier e Decoin, está surgindo uma nova geração de autores crentes, cujas obras literárias e filosóficas procuram a concordância com a mensagem evangélica.
Mais ainda: autores como Sylvie Germain estão vendo que as suas obras começam a seduzir pessoas na laica França e mesmo além das suas fronteiras, de acordo com informações recentes do diário italiano Avvenire. Nas páginas de Le Figaro, François Tallandier, outro talentoso escritor da nova literatura francesa, explicou as razões da sua silenciosa conversão ao catolicismo, depois de longos anos de profundo ceticismo. “Talvez pelo esplendor de Bourges, que dava asas a Stendhal para ser cristão. Talvez pela modesta doçura da igreja românica de Ennezat. Talvez porque um dia, ouvindo pronunciar a palavra ‘católico’ com o desprezo de quem não precisa de mais razões, eu me cansei e me disse abertamente: ‘Eu sou católico’”.
O caminho criativo de F. Hadjadj também é uma referência na cultura francesa. Este escritor e intelectual judeu se converteu ao catolicismo depois de uma longa fase de niilismo. Num ensaio, ele analisa com ironia e paixão a própria indiferença diante da morte das sociedades do Ocidente, ao mesmo tempo em que convoca à profunda alegria alicerçada nas razões que a fé aponta. O próprio Dactec, intelectual excêntrico e controverso, se atreveu a gritar em público que “não há futuro para a humanidade fora de Cristo”.
São exemplos desse cada vez mais numeroso grupo de conversos que estão chegando ao catolicismo e, o que talvez chame ainda mais a atenção, não têm nenhum complexoem declará-lo. Elesme trazem à mente personagens históricos de tanto destaque como Tertuliano, o mais brilhante advogado de Cartago; São Cipriano, igualmente brilhante advogado convertido em plena idade madura; e o sem igual Santo Agostinho. Mais próximos de nós, a italiana Alessandra Borghese e a espanhola Maria Nájera.
Sem que seja uma conversão em sentido estrito, não deixa de chamar a atenção o caso de Akiko Tamura. Ela tem 37 anos e uma brilhante carreira como cirurgiã torácica na Clínica Universitária da Universidade de Navarra [Espanha]. Depois de fazer suas primeiras práticas na Universidade de Harvard e ampliar a especialidade no Hospital de Massachussets, aterrissou em Pamplona e conseguiu um grande prestígio profissional. Na última quinta-feira santa, conforme ela mesma contou em entrevista ao jornal [espanhol] ABC, “estava no meu carro, bem tranquila, e de repente, dentro do meu coração, notei claramente que Deus me pedia para ser carmelita descalça. Não ouvi vozes nem tive visões; só senti uma paz e um amor de Deus indescritível”. “Eu nunca teria pensando em virar freira num convento”, prossegue ela, mas “é o plano de Deus”. Tamura acaba de entrar como carmelita descalça no convento de Zarautz.
Sem sair da nossa diocese [de Burgos], as religiosas da Iesu Communio poderiam nos contar muitos casos parecidos. Não foram poucas as que deixaram a profissão, como engenheiras, arquitetas e médicas, e hoje são “loucamente felizes” vestindo um tosco e singelo hábito. Sem entrar nos muros de um convento, quantos profissionais de prestígio, estudantes universitários, donas de casa e jovens já descobriram “no meio da rua” a verdade do que Santa Teresa de Jesus dizia com grande convicção: “Só Deus basta”. No fundo, esta é a razão de aderirem à fé tantos profetas e apóstolos do niilismo e do ceticismo, ou de saírem da letargia religiosa tantos crentes mornos, que se transformam em verdadeiros crentes e apóstolos.

(Trad.:ZENIT)


22/08/2012

Por que Maria é Rainha?

CASTEL GANDOLFO, quarta-feira, 22 de agosto de 2012 (www.zenit.org) – Retomamos a seguir o  texto da catequese do Papa Bento XVI durante a Audiência Geral, que foi realizada esta manhã, em Castel Gandolfo.

Queridos irmãos e irmãs,
Hoje é a memória litúrgica da Santíssima Virgem Maria invocada com o título: "Rainha". É uma festa instituída recentemente, ainda se a devoção seja de origem antiga. Foi criada pelo Venerável Pio XII, em 1954, no final do Ano Mariano, definindo a data para o 31 de maio (cf. Carta Encíclica Ad Caeli Reginam, 11 de outubro de 1954: AAS 46 [1954], 625-640). Nesta ocasião, o Papa disse que Maria é Rainha mais do que qualquer outra criatura pela elevação de sua alma e pela excelência dos dons recebidos. Ela nunca deixa de conceder todos os tesouros do seu amor e dos seus cuidados pela humanidade (cf. Discurso em honra de Maria Rainha, 1º de novembro de 1954). Agora, após a reforma do calendário litúrgico, foi colocada depois de 8 dias da solenidade da Assunçaõ para sublinhar a estreita relação entre a realeza de Maria e a sua glorificação em alma e corpo junto ao seu Filho. Na Constituição sobre a Igreja do Concílio Vaticano II lemos assim: "Maria foi assunta à glória celeste, e exaltada por Deus como Rainha do universo, para que fosse mais plenamente conformada com o seu Filho” (Lumen gentium, 59).
Esta é a raiz da festa de hoje: Maria é Rainha porque está associada de modo único com o seu Filho, seja no caminho terreno, seja na glória do Céu. O grande santo da Síria, Efrém, o Sírio, afirma, sobre a realeza de Maria, que deriva da sua maternidade: Ela é Mãe do Senhor, do Rei dos reis (cfr. Is 9, 1-6) e nos mostra Jesus como vida, salvação e nossa esperança. O Servo de Deus Paulo VI lembrava na sua Exortação Apostólica Marialis Cultus: "Na Virgem Maria tudo é relativo a Cristo e tudo depende dele: por ele Deus Pai, desde toda a eternidade, a escolheu Mãe toda santa e a adornou de dons do Espírito, concedidos a mais ninguém "(n. 25).
Mas agora nos perguntamos: o que significa dizer Maria Rainha? É só um título como outros, a coroa, um ornamento como outros? O que significa isso? O que é esta realeza? Como já indicado, é uma conseqüência do seu ser unido ao Filho, do seu ser no Céu, ou seja, em comunhão com Deus; Ela participa da responsabilidade de Deus pelo mundo e do amor de Deus pelo mundo. Há uma ideia vulgar, comum, de rei ou rainha: seria uma pessoa com poder, riqueza. Mas este não é o tipo de realeza de Jesus e Maria. Pensemos no Senhor: a realeza e o ser rei de Cristo está cheio de humildade, serviço, amor: é acima de tudo servir, ajudar, amar. Lembremos que Jesus foi proclamado rei na cruz com esta inscrição escrita por Pilatos: “Rei dos Judeus” (cf. Mc 15, 26). Naquele momento, na cruz, mostra que é rei; e como é rei? sofrendo conosco, por nós, amando até o fim, e assim governa e cria verdade, amor, justiça. Ou pensemos também em outro momento: na Última Ceia inclina-se para lavar os pés dos seus. Portanto, a realeza de Jesus não tem nada a ver com a dos poderosos da terra. É um rei que serve os seus servos; assim o fez durante toda a sua vida. E o mesmo vale para Maria: é rainha no serviço a Deus, à humanidade, é rainha do amor que vive o dom de si a Deus para entrar no desenho da salvação do homem. Respondeu ao anjo: Eis aqui a serva do Senhor (cf. Lc 1, 38), e no Magnificat canta: Deus olhou para a humildade da sua serva (cf. Lc 1,48). Nos ajuda. É Rainha amando-nos, ajudando-nos em cada uma das nossas necessidades; é a nossa irmã, serva humilde. E assim já chegamos ao ponto: como é que Maria exercita essa realeza de serviço e amor?
Cuidando de nós, seus filhos: os filhos que se dirigem a ela na oração, para agradecê-la ou para pedir a sua materna proteção e a sua ajuda celestial, depois de ter perdido o caminho, oprimidos pela dor ou pela angustia por causa das tristes e difíceis vicissitudes da vida. Na serenidade ou na escuridão da existência, nós nos voltamos para Maria confiando-nos à sua contínua intercessão, para que nos possa obter do Filho toda graça e misericórdia necessárias para a nossa peregrinação ao longo das estradas do mundo. Àquele que governa o mundo e detém os destinos do universo nos dirigimos confiados, por meio da Virgem Maria. Ela, por séculos, é invocado como celestial Rainha dos céus; oito vezes, depois da oração do Santo Terço, é implorada nas ladainhas lauretanas como Rainha dos Anjos, dos Patriarcas, dos Profetas, dos Apóstolos, dos Mártires, dos Confessores, das Virgens, de todos os Santos e das Famílias. O ritmo dessas antigas invocações, e orações cotidianas como a Salve Rainha, nos ajudam a compreender que a Virgem Santa, como Mãe nossa, junto ao Filho Jesus, na glória do Céu, está conosco sempre, no desenrolar da nossa vida diária.
O título de Rainha é, então, título de confiança, de alegria, de amor. E sabemos que aquela que tem em mãos, em parte, o destino do mundo é boa, nos ama e nos ajuda nas nossas dificuldades.
Caros amigos, a devoção à Nossa Senhora é um elemento importante da vida espiritual. Que na nossa oração não deixemos de dirigir-nos confiados a Ela. Maria não deixará de interceder por nós junto ao seu Filho. Olhando para Ela, imitemos a sua fé, a disponibilidade plena ao projeto de amor de Deus, a generosa acolhida de Jesus.
Aprendamos de Maria a viver. Maria é a Rainha do céu que está perto de Deus, mas é também a mãe que está perto de cada um de nós, que nos ama e escuta a nossa voz. Obrigado pela atenção.
[Tradução Thácio Siqueira]

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