Arcebispo de Burgos fala de conversões
BURGOS, Espanha, quarta-feira, 22 de agosto de 2012 (www.zenit.org)
- Em meio a um laicismo e relativismo que afeta continentes inteiros,
em especial a Europa, e a poucas semanas da abertura da Assembleia
Especial dos Bispos sobre a Nova Evangelização, dom Francisco Gil,
arcebispo de Burgos, reflete sobre este fenômeno trazendo à tona casos
que são um verdadeiro retorno a Deus.
A seguir, o texto integral da sua mensagem.
+ Francisco Gil Hellín
Talvez alguns pudessem pensar que a história dos grandes convertidos é
água passada. A realidade é bem outra. As letras francesas, por
exemplo, seguem as pegadas de Paul Claudel, Péguy e Mauriac, e, cada vez
mais, são frequentes os romances e ensaios que têm como protagonista a
fé cristã. Seguindo o caminho de escritores de tanta envergadura como
Tournier e Decoin, está surgindo uma nova geração de autores crentes,
cujas obras literárias e filosóficas procuram a concordância com a
mensagem evangélica.
Mais ainda: autores como Sylvie Germain estão vendo que as suas obras
começam a seduzir pessoas na laica França e mesmo além das suas
fronteiras, de acordo com informações recentes do diário italiano Avvenire. Nas páginas de Le Figaro,
François Tallandier, outro talentoso escritor da nova literatura
francesa, explicou as razões da sua silenciosa conversão ao catolicismo,
depois de longos anos de profundo ceticismo. “Talvez pelo esplendor de
Bourges, que dava asas a Stendhal para ser cristão. Talvez pela modesta
doçura da igreja românica de Ennezat. Talvez porque um dia, ouvindo
pronunciar a palavra ‘católico’ com o desprezo de quem não precisa de
mais razões, eu me cansei e me disse abertamente: ‘Eu sou católico’”.
O caminho criativo de F. Hadjadj também é uma referência na cultura
francesa. Este escritor e intelectual judeu se converteu ao catolicismo
depois de uma longa fase de niilismo. Num ensaio, ele analisa com ironia
e paixão a própria indiferença diante da morte das sociedades do
Ocidente, ao mesmo tempo em que convoca à profunda alegria alicerçada
nas razões que a fé aponta. O próprio Dactec, intelectual excêntrico e
controverso, se atreveu a gritar em público que “não há futuro para a
humanidade fora de Cristo”.
São exemplos desse cada vez mais numeroso grupo de conversos que
estão chegando ao catolicismo e, o que talvez chame ainda mais a
atenção, não têm nenhum complexoem declará-lo. Elesme trazem à mente
personagens históricos de tanto destaque como Tertuliano, o mais
brilhante advogado de Cartago; São Cipriano, igualmente brilhante
advogado convertido em plena idade madura; e o sem igual Santo
Agostinho. Mais próximos de nós, a italiana Alessandra Borghese e a
espanhola Maria Nájera.
Sem que seja uma conversão em sentido estrito, não deixa de chamar a
atenção o caso de Akiko Tamura. Ela tem 37 anos e uma brilhante carreira
como cirurgiã torácica na Clínica Universitária da Universidade de
Navarra [Espanha]. Depois de fazer suas primeiras práticas na
Universidade de Harvard e ampliar a especialidade no Hospital de
Massachussets, aterrissou em Pamplona e conseguiu um grande prestígio
profissional. Na última quinta-feira santa, conforme ela mesma contou em
entrevista ao jornal [espanhol] ABC, “estava no meu carro, bem
tranquila, e de repente, dentro do meu coração, notei claramente que
Deus me pedia para ser carmelita descalça. Não ouvi vozes nem tive
visões; só senti uma paz e um amor de Deus indescritível”. “Eu nunca
teria pensando em virar freira num convento”, prossegue ela, mas “é o
plano de Deus”. Tamura acaba de entrar como carmelita descalça no
convento de Zarautz.
Sem sair da nossa diocese [de Burgos], as religiosas da Iesu Communio
poderiam nos contar muitos casos parecidos. Não foram poucas as que
deixaram a profissão, como engenheiras, arquitetas e médicas, e hoje são
“loucamente felizes” vestindo um tosco e singelo hábito. Sem entrar nos
muros de um convento, quantos profissionais de prestígio, estudantes
universitários, donas de casa e jovens já descobriram “no meio da rua” a
verdade do que Santa Teresa de Jesus dizia com grande convicção: “Só
Deus basta”. No fundo, esta é a razão de aderirem à fé tantos profetas e
apóstolos do niilismo e do ceticismo, ou de saírem da letargia
religiosa tantos crentes mornos, que se transformam em verdadeiros
crentes e apóstolos.
(Trad.:ZENIT)