ZENIT - O mundo visto de Roma

18/06/2012

A degradação do meio ambiente e a poluição espiritual


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Abaixo trecho de entrevista concedida pelo Cardeal Ratzinger – hoje Papa Bento XVI – ao jornalista Peter Seewald.
Talvez realmente já não seja possível curar a partir do exterior, mas unicamente a partir do interior, curar uma consciência que não é egoísta. O senhor acabou de referir que os avisos bíblicos do mau estilo de vida talvez nos quisessem dizer: é a nossa condição espiritual que influencia a natureza.

Sim, parece-me claro que, de fato, é o Homem que ameaça retirar o sopro vital à natureza. E que a poluição do ambiente exterior que observamos é o espelho e o resultado da poluição do ambiente interior, à qual não prestamos suficiente atenção. Julgo que é também o que falta aos movimentos ecológicos. Combatem com uma paixão compreensível e justificada a poluição do ambiente; a poluição espiritual que o Homem faz a si mesmo continua, pelo contrário, a ser tratada como um dos seus direitos de liberdade. Há aqui uma desigualdade. Queremos afastar a poluição mensurável, mas não tomamos em consideração a poluição espiritual do Homem e a figura da criação que nele se encontra, para que se possa respirar humanamente. Defendemos, pelo contrário, tudo o que a arbitrariedade humana produz, com base num conceito completamente falso de liberdade.
Enquanto mantivermos essa caricatura de liberdade, quer dizer, a liberdade de uma destruição espiritual interior, continuarão imperturbavelmente os seus efeitos exteriores. Julgo que devemos refletir sobre isso. Não é apenas a natureza que tem as suas regras e as suas formas de vida, que temos de respeitar, se quisermos viver dela e nela, mas também o Homem é interiormente uma criatura e está sujeito à ordem da criação. Não pode fazer de si mesmo tudo o que quer, como lhe apetece. Para que o Homem possa viver a partir do interior, tem de aprender a reconhecer-se como criatura e tem de se dar conta de que nela deve existir, por assim dizer, a pureza interior devida ao fato de ele ser criatura, a ecologia espiritual. Se esse elemento fundamental da ecologia não for compreendido, tudo mais se desenvolverá num sentido negativo.
A epístola aos Romanos diz isso muito claramente no oitavo capítulo. Diz que Adão, ou seja, o Homem interiormente poluído, trata a criação como um escravo, a espezinha; a criação geme sob ele, por causa dele, através dele. E hoje ouvimos o gemido da criação, como nunca antes a tínhamos ouvido gemer. São Paulo acrescenta que a criação espera a vinda dos filhos de Deus e que respirará de alívio quando surgirem pessoas nas quais transpareça a luz de Deus – e só então a criação poderá voltar a respirar.
[Cardeal Joseph Ratzinger, O Sal da Terra, capítulo III, A Catarse – A mudança de era e as suas dilacerações; pp. 183-184, Editora Imago, 2ª edição, Rio de Janeiro, 2005]

Fonte: Ecclesia Una

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